Escrita por Ery Lopes
Adam deitou em sua cama e lá ficou, chorando, com as chuteiras novas nos pés e agarrado à linda bola que havia ganhado de seu pai naquela mesma tarde.
Lá fora, a chuva não parava de cair, sem dar chance para que ele pudesse inaugurar seus novos presentes. Por isso, o garoto estava bem revoltado, pensando todo o tempo:
— "chuva idiota! Chuva idiota!"
Passado um tempo em que ele tinha se deitado, seu pai apareceu no quarto e lhe convidou:
— Filho, está na hora da janta. Vamos tomar uma sopinha?
Adam respondeu bravo:
— Não quero!
O pai insistiu com carinho:
— Vamos lá, filho! Está uma delícia!
— Já disse que não quero! — respondeu o menino, ainda mais bravo do que antes.
Seu pai tentou conversar com ele:
— Filho. Eu entendo que você está triste porque a chuva acabou atrapalhando nossos planos, mas nós devemos compreender também que ela é importante para nosso mundo, e que, se hoje a tempestade nos impede de brincar lá fora, nós teremos amanhã para brincarmos…
— Eu não quero saber de mais nada! — Adam interrompeu o pai e se cobriu o rosto com o travesseiro, como que para não mais escutar aquela conversa.
O pai ficou um pouco triste, mas aceitou:
— Tudo bem, filho. Um dia você vai me entender!
O pai saiu, fechou a porta do quarto e Adam continuou ali, deitado e revoltado com a tempestade.
Ele retirou o travesseiro do rosto e passou a observar a chuva caindo. Pelo vidro da janela do seu quarto, observava os pingos caindo e caindo sem parar. De vez em quando via o clarão dos relâmpagos por entre as nuvens negras e logo em seguida vinha um trovão a surpreendê-lo.
Os olhos do menino se fixaram naquela imagem que se projetava pela janela do quarto: pingos de chuva e relâmpagos, pingos de chuva e relâmpagos...
De repente, Adam começou a perceber que, a cada trovão, sua cama parecia tremer inteirinha, e cada vez mais forte. Ele achou estranho e resolveu se levantar. Mas aí veio um trovão muito forte e sua cama começou a se tremular sem parar. Então percebeu outra coisa muito estranha: o piso de seu quarto havia desaparecido. Não havia chão; era como um imenso buraco.
Daí ele sentiu sua cama descer e descar mais, caindo nesse buraco que se formou. E a cama foi caindo, caindo…
Olhou para o alto e não viu mais o seu quarto: estava tudo escuro, como que coberto por nuvens negras. A chuva caia, porém ele não se molhava.
— Que estranho! — disse ele baixinho, e continuou falando consigo mesmo: — O que está acontecendo aqui?
A cama descia, descia e acabou caindo num rio. Agora, o rio carregava a cama e sobre ela o garoto. Era como se Adam estivesse navegando com uma jangada.
— Papai, me ajuda! — ele gritou apavorado.
Para onde aquele rio estaria levando a cama e o menino de chuteiras novas?