
Escrita por Ery Lopes
Passado uns dias daquele encontro com o sapo, a lagarta começou a perceber seu corpo ficar mais pesado e suas perninhas bem duras. Já não conseguia mais andar.
Ela ficou bastante assustada e pensou estar doente, mas se lembrou do que o amigo sapo havia lhe dito.
— "Pode ser a metamorfose!" — pensou ela.
E assim ela se animou. Contudo, também sentia medo. Muito medo, aliás. Tanto que chegou a pensar:
— "E se for a minha morte?"
Resolveu então gastar suas últimas forças e subir uma enorme árvore para o ver o pôr do sol, nem que fosse o último.
Então, com muito esforço, mesmo com o seu corpo todo dolorido e os pezinhos bem cansados, a lagarta chegou ao topo da árvore e esperou o final da tarde.
Ela se recolheu toda, como alguém que sente muito frio se encolhe para se aquecer. E enquanto a lagarta se encolhia, uma casca começou a se formar em volta dela, como se fosse um cobertor.
A lagarta estava muito assustada com aquela situação e só pensava que iria morrer, pois não tinha forças para se mover com aquela capa lhe apertando toda. Além disso, seu casulo estava pendurado bem no alto de uma árvore e se ele se soltasse, ela certamente estaria acabada com a queda.
Como o sol estava se pondo, ela então decidiu deixar o medo por um instante e aproveitar para apreciar as tintas colorindo o céu naquele crepúsculo.
E sabe quem apareceu por ali naquela hora?
Se você disse "o vaga-lume", então você acertou!
E ele já chegou esnobando:
— Ora, ora, você não é aquela lagarta que gosta de subir nas árvores para ver o pôr do sol?
A lagarta mal podia falar, mas apelou:
— Por favor, deixe-me em paz!
— O que houve, amiga? — disse o inseto luminoso — Por que você está assim, ainda mais feia do que antes?
— Deixe-me em paz! — a lagarta pediu novamente.
Mas o vaga-lume não perdia tempo em zombar dela:
— Puxa vida! Eu ia te convidar para dar uma volta por aí, na imensidão dos ares.
E saiu fazendo piruetas e dando gargalhadas.
A lagarta chorava; chorava de tristeza e de dor, porque o casulo lhe apertava cada vez mais.
Por fim, adormeceu ao cair da noite.
No decorrer de duas semanas, o corpo da lagarta já estava todo modificado e, na verdade, havia deixado de ser uma lagarta: agora era uma crisálida. Sua barriga e seus pés se alongaram e de sua cabeça saíram duas antenas bem fininhas com uma bolinha na ponta de cada uma. Além do mais: — e o que é o mais importante — brotaram em suas costas duas membranas coloridas que, quando abertas, estarão aptas a se transformarem em asas.

Com as forças renovadas, a crisálida começou a se libertar pouco a pouco do casulo, soltou as asas e, sendo agora uma bela borboleta, lançou voou por sobre a floresta.