Escrita por Ery Lopes
O nome da cidadã que deu a ideia para os monarcas do Reino Melancólico adotarem uma mocinha como filha e princesa é Gertrudes, conhecida como a mulher das ervas, pois ela cultivava muitas plantas que ninguém mais naquele lugar conhecia. De vez em quando ela inventava lá umas receitas doidas — seja para cuidar de doentes, seja para diferenciar a comida.
E de onde ela tirou aquela feliz ideia?
Bem, a Dona Gertrudes tinha uma filha mocinha e queria muito transformá-la na princesinha do reino. E se sua filha fosse a escolhida, ela acreditava que também iria morar no palácio, como uma segunda mãe da princesa.
Mas seria preciso que a moça fosse a escolhida.
— Ela vai ser a escolhida! — disse Dona Gertrudes para si mesma, no caminho do palácio para sua casa.
Certamente que a filha dessa cidadã era bonitinha — ainda que tivesse uma cara melancólica —, mas havia muitas outras mocinhas no reino e nada poderia garantir que os monarcas iriam escolhê-la.
Pois então, por garantia, Dona Gertrudes tinha um plano para assegurar o sucesso de sua mocinha — aliás, um malévolo plano!
E aí foi que começou o drama.
A mulher das ervas foi até seu roçado e lá colheu uma fruta exótica e desconhecida pelos demais cidadãos — o cacau —, da qual fez um melado e, posto para secar, numa forma de uma barra, ela o converteu em um doce.
— Isso vai ser chocante! — disse ela.
Daí, ela resolveu chamar esse doce de "chocolate".
Ora, mas o que isso tem a ver com o concurso?
Bem, a Dona Gertrudes inventou essa receita nova com um objetivo bem definido: ela acrescentou a essa sua deliciosa invenção uma porção mágica para que quem provasse do chocolate ficasse viciado nele. E a sua vítima seria…
— A rainha! Afinal, é ela quem manda! O que ela decidir, o rei aceita! Quem ela escolher para ser a princesa, o rei a tomará como filha!
Sim. Pela sua ideia, a rainha iria adorar aquela saborosa iguaria e, criada a dependência, não teria dúvidas de escolher a filha da Dona Gertrudes no grande e esperado concurso, como garantia de continuar se deliciando com o chocolate da ambiciosa doceira.
Quando o primeiro tablete de chocolate ficou pronto, até a Dona Gertrudes ficou com água na boca para experimentá-lo, tanto que se apressou em embrulhá-lo com um lindo arranjo, para em seguida despachar o presente para o castelo real.
* * *
A rainha recebeu aquele mimo e não tardou em prová-lo.
— Hummm, que delícia! — ela avaliou — É a coisa mais gostosa que já experimentei na vida!
Ela simplesmente devorou o tablete inteiro em poucos minutos. Nem sequer deixou um pedacinho para o rei, vejam só!
Com a expectativa do concurso — marcado para o dia seguinte —, ela já estava empolgada, mas depois daquele doce, ah, a sua majestade passou o resto do dia extraordinariamente contente.
À noite, depois da ceia, ela lembrou-se do chocolate e sentiu uma vontade irresistível de comê-lo. Então chamou um dos serviçais do palácio e pediu que ele fosse até à casa da doceira pedir mais um tablete daqueles.
— Vá rápido, que eu estou com muita vontade! — disse ela.
— Sim, Vossa Majestade! — cumprimentou o serviçal, que logo mais partiu em missão.
Rapidamente ele alcançou o endereço e bateu à porta. A senhora da casa reconheceu imediatamente que era alguém do castelo e também já sabia do que se tratava, tanto que já havia preparado uma resposta para o enviado real:
— Oh, que pena! Não disponho de nenhum tablete no momento. Mas diga à Sua Majestade que, sem falta, o providenciarei para amanhã e eu mesmo cuido de arranjar alguém para levar o doce até ela.
Na verdade, Dona Gertrudes tinha sim mais uma barra de chocolate guardada em casa, mas de fato estava reservada para ser entregue exatamente na hora do concurso.
É que era um costume as pessoas sempre levarem presentes para os seus monarcas. Dona Gertrudes sabia que todas as candidatas ao título de princesa levariam mimos ao casal real — e que o valor dos presentes pesaria na decisão do concurso. Então, a sua filha já tinha o presente perfeito: o chocolate.