
Escrita por Ery Lopes
A princesa não conseguiu dormir. Mal esperou o sol nascer e deixou seus aposentos às escondidas partindo rumo ao Rio do Dragão Melancólico. Estava disposta a se sacrificar para salvar o reino. Não tinha uma ideia nova, nem qualquer plano em mente senão ir ter com o dragão e, quem sabe, com seu meigo apelo, conseguir convencê-lo deixar atravessar o rio. Quando sentiram sua ausência no palácio, a princesa já estava distante dali.
E lá vai ela, com a cara, a coragem e uma barra de chocolate, claro, pois que — como já dito — também a doce Carol não largava daquela guloseima.
Logo ao se aproximar da margem do rio a moça avistou o assustador dragão nadando apressado e a encarando. E a fera demonstrava mesmo estar furiosa.
— Seu dragão… — começou ela a discursar, com voz tímida — O senhor não me leve a mal, mas eu preciso atravessar o rio…
E não é que o bicho parecia estar lhe dando ouvidos? Ele até colocou uma das patas sob o queixo, como alguém que fica pensativo.
A Princesa Carol continuou:
— Eu… Eu preciso chegar até o Monte do Oráculo, sabe?… É que nosso povo está com um probleminha e precisamos de um conselho do sábio conselheiro que mora lá… Você entende?
O dragão ficou quieto, pensativo. A princesa ganhou mais confiança e completou:
— Então… Se o senhor for um moço bonzinho e me deixar passar… eu… eu ficarei eternamente grata e…
Mas, de repente, o dragão sacudiu suas patas, abriu suas asas e cuspiu uma bola de fogo para bem perto da princesa. Ela deu um estridente grito, saltou para trás e totalmente apavorada pôs-se a correr de volta ao palácio.
* * *
E por falar no palácio, por lá, todos estavam aflitos com o sumiço da princesa. O rei e a rainha já estavam quase desesperados e colocaram toda a guarda-real à procura da filha querida. Ninguém imaginou que Carol pudesse ter coragem de ir enfrentar o dragão e por isso todos supunham que ela houvesse se perdido na imensidão dos aposentos daquele castelo.
Enquanto isso, depois de umas boas passadas, no caminho de retorno, a princesa parou para recuperar o fôlego. Como estava bem acima do peso habitual, sentiu um cansaço anormal. No entanto, não hesitou em abrir o embrulho que carregava, para dele sacar mais uma barra de chocolate.
Foi aí que apareceu alguém.
Lembra-se do jovem artesão, lá do começo de nossa estória? Pois bem, era ele mesmo. Estava ali para colher madeira na intenção de confeccionar mais uma de suas obras de arte.
— Princesa?! — disse ele, admirado — Quero dizer, Vossa Alteza… Se me permite, o que está fazendo sozinha aqui?
Ela lhe contou a verdade, quase chorando.
— Por um momento… — narrou a princesa —, eu pensei que ele fosse me deixar passar…
— Dragões não fazem acordo, Alteza.
— Então está tudo perdido! Estamos condenados a ser o reino mais melancólico do mundo?
O rapaz ficou pensativo, parecia ter se transportado para outro mundo. Quando finalmente voltou a si, exclamou:
— Talvez haja um jeito de vencer o dragão.