Escrita por Antoine de Saint-Exupéry
Levei muito tempo para compreender de onde viera. O principezinho, que me fazia milhares de perguntas, não parecia sequer escutar as minhas. Palavras pronunciadas ao acaso é que foram, pouco a pouco, revelando tudo. Assim, quando viu pela primeira vez meu avião (não vou desenhá-lo aqui, é muito complicado para mim), perguntou-me bruscamente:
— Que coisa é aquela?
— Não é uma coisa. Aquilo voa. É um avião. O meu avião.
Eu estava orgulhoso de lhe comunicar que eu voava. Então ele exclamou:
— Como? Tu caíste do céu?
— Sim, disse eu modestamente.
— Ah! Como é engraçado...
E o principezinho deu uma bela risada, que me irritou profundamente. Gosto que levem a sério as minhas desgraças. Em seguida acrescentou:
— Então, tu também vens do céu! De que planeta és tu?
Vislumbrei um clarão no mistério da sua presença, e interroguei bruscamente:
— Tu vens então de outro planeta?
Mas ele não me respondeu. Balançava lentamente a cabeça considerando o avião:
— É verdade que, nisto aí, não podes ter vindo de longe...
Mergulhou então num pensamento que durou muito tempo. Depois, tirando do bolso o meu carneiro, ficou contemplando o seu tesouro.
Poderão imaginar que eu ficara intrigado com aquela semiconfidência sobre "os outros planetas". Esforcei-me, então, por saber mais um pouco.
— De onde vens, meu bem? Onde é tua casa? Para onde queres levar meu carneiro?
Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois:
— O bom é que a caixa que me deste poderá, de noite, servir de casa.
— Sem dúvida. E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma estaca.
A proposta pareceu chocá-lo:
— Amarrar? Que ideia esquisita!
— Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
E meu amigo deu uma nova risada:
— Mas onde queres que ele vá?
— Não sei... Por aí... Andando sempre para frente.
Então o principezinho observou, muito sério:
— Não faz mal, é tão pequeno onde moro!
E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda:
— Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe...